A Psicologia Positiva

A psicologia iniciou sua trajetória como uma ciência que visava estudar a mente, sua estrutura ou funcionamento. Tornou-se uma ciência voltada para o processo de cura ou tratamento de transtornos, dificuldades e sofrimento mental. Na década de 1950 o esforço para entender e minorar as manifestações de problemas cognitivos e emocionais levou a uma ênfase na patologia e no sofrimento.

Em consequência, os modelos que surgiram para explicar o funcionamento humano foram modelos de doença. A fraqueza tem prioridade sobre a força e a capacidade humana de viver uma vida plena e feliz.

A Psicologia Positiva Surge como uma alternativa, propondo que o foco deve mudar da ênfase “em consertar as piores coisas da vida para construir as melhores qualidades da vida” (Seligman, 2005).

Estudos sobre construtos da Psicologia Positiva (bem-estar subjetivo, otimismo, esperança, e vários outros) começam a se desenvolver na década de 1980, mas o grande crescimento se dá neste século.

Instrumentos de avaliação em Psicologia Positiva

Instrumentos com boas evidências de validade, fidedignidade e normas são fundamentais tanto para a pesquisa como para intervenções. Para fazer uma intervenção buscando melhorar, por exemplo, o engajamento no trabalho é fundamental dispor de um teste que avalie apropriadamente esse construto.

No Brasil começamos a desenvolver instrumentos para a avaliação em Psicologia Positiva no final do século passado. Inicialmente foram escalas para avaliar satisfação com a vida e afetos positivos e negativos em adultos e crianças. A seguir desenvolvemos escalas para avaliar otimismo, esperança, autoestima e autoeficácia. Mais recentemente foram desenvolvidos os instrumentos que estão apresentados no livro Avaliação em Psicologia Positiva: Técnicas e Medidas. São escalas que avaliam Forças de Caráter, Altruísmo, Amizade, Autocompaixão e Engajamento no Trabalho. Essa última escala foi desenvolvida por um pesquisador holandês. Trabalhamos juntos e fizemos a adaptação e validação para o português. É efetivamente um instrumento muito útil para aplicações no trabalho e organizações. Mas, além dessas escalas, o livro apresenta também métodos para a análise da Resiliência e Mindfulness.

Aplicações da Psicologia Positiva

Nos últimos anos houve avanços consideráveis com grande impacto na prática psicológica em várias áreas:

Psicologia Comunitária – mudou o foco do estudo das consequências da pobreza e da exclusão para a resiliência e o entendimento dos fatores de risco e proteção.

Psicologia Clínica e da Saúde –  iniciou-se um processo de desconstrução do modelo médico e aumentou a ênfase na identificação de fatores positivos, forças, qualidades.

Psicologia Organizacional e do Trabalho – Começam a se desenvolver estratégias para melhorar a engajamento e saúde dos trabalhadores, aumentar a satisfação e o bem-estar no trabalho. Essas intervenções reduzem afastamentos do trabalho por doença, absenteísmo, intenções de turnover e rotatividade. E observa-se um considerável aumento na qualidade do trabalho e no alto desempenho dos trabalhadores.

Um livro lançado pela Hogrefe: Aplicações em Psicologia Positiva: Trabalho e Organizações. Descreve muitas dessas aplicações. Mas o progresso não cessa e, em breve, teremos novas edições deste livro. Muitas pesquisas científicas e aplicadas estão sendo desenvolvidas por pesquisadores nessa área, o que poderá ser visto nos próximos volumes.

Começaram também a surgir aplicações da Psicologia Positiva no contexto Educacional e Escolar e em outras áreas, apresentando novos modelos e alternativas de intervenção.

Claudio Hutz

Psicólogo. Mestre e Doutor pela University of Iowa (USA) e Livre-Docente pela Arizona State University (USA). Atualmente é Professor Titular da UFRGS e coordenador do Laboratório de Mensuração do PPG Psicologia da UFRGS. Suas linhas de pesquisa são nas áreas da Psicologia Positiva, Desenvolvimento Social e da Personalidade e Avaliação Psicológica e Psicometria.

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